Friday, March 1, 2013

Mantra

Que seja escuro o dia, mas que não falte luz dentro de ti; persevera contra o breu, pois no fim da noite nasce novo o sol. Enxerga-te bom, e bem, porque dentre tantos males e fins o seu é este: ser feliz.

Caminha, toque, ouve que o renovado dia clama por teu nome e a ti entrega lampejos belos de verdade pura – és completo, como a vida também o é; tens força bruta deitada no peito e não há rocha, por mais cravada na terra esteja, a qual suportará teus golpes de verdade.

Que seja amor fogo, e a dor cinza consumida, provento da brasa ardente, e que ela se desfaça aos ventos e nunca retorne, porque aqui é casa donde os ventos se renovam. Vá para longe, matéria morta, que de lá tome nota, e medo, das minhas alegrias e da minha fé – tino que se faz o fogo.

Diga por onde pairar “Lá vais aquele que empunha a espada e o escudo, derrotando os demônios da alma, desbravador de novos anseios, rei da morada donde os ventos não retornam”. Sê o amor cura das súplicas, navegantes além-mares, crave aqui sua bandeira e há de se ver até depois do abrigo do sol.

Seja tu ponte que vai da lamúria à felicidade, e leve quem necessita a travessia, passando pelo abismo negro de tragédias várias, mas tu a salvo está – longe de seu contato então. A quem lhe tem amor, tu serás amor apenas, bússola guiante aos perdidos.

Tornarás tu ao pó, e antes e depois, cobrirá esta terra – sua vida – com palavras boas e quentes, e risos francos, calorosos disparos do conteúdo da alma. Torne-te tu no alicerce do mundo, pois é verdade que o sustento deste vem de tua própria vontade.

Que seja pesada a chuva e gelado sejam tuas gotas, e que venham direto a mim, não faças curvas; seja o sol brilho que arde, mas ardam meus olhos que permitirei conhecer o meu âmago, venha Sol, queime o gélido medo que em mim insiste morada, esse frio de lembrança que não é frio da chuva: esse reanima meu ser deitado à pedra morta. Não abre ti em abismo eterno, minha terra, porque daqui parte meu caminho, a procissão minha, e por ele – ai, se consigo ir além – levo meu rogo de semente boa e próspera e bom será seu fruto.

Tu és produto de sublime criação, então sublime és tu igualmente, que carrega o segredo da longa vida e os ditos do primeiro dia do Universo. Se pensares não ser parte deste todo, lembres que o que é o vasto oceano senão milhões de finas gotas; o que é o mistério além de pequenas pistas; que é a felicidade feita senão de sorrisos poucos e certeza certa?

A metade em si é integrante do todo, mas ainda assim é completa por si só – adiciona, então, para a totalidade. Eu e tu somos um elo da enorme corrente de ouro que trança o passado, presente e futuro. Quem dirá ao amanhã que venha logo senão nossa vontade de seguir adiante o passo?

Que a vida lhe sorria e ti a ela, pois o que é nossa barganha senão imagem especular defronte deste espelho? Da dádiva divina tires tu a parte que lhe cabe e faça dela proveito a tua maneira. Que traga o nascente dia, ares de renovação e júbilo, e a luz que brilha faça enxergar os motivos que procuras tu; segue-os então quando em ti trombarem, sem receio tolo ou ferros aos pés a lhe impedirem o passo – que seja póstuma a relutância.

Seja tu brasão de coragem, e que esteja a tremular em bandeiras mil. Exemplo de labuta honrada e do suor do que persiste, esse é teu eu, seja verdade. Que o morro alto e pedregoso saiba que em teus joelhos suportaria o peso do mundo – como carregou o fardo do desencanto, da angústia, a sede que a alma por tempo reclamou – e que sinta ele temor, pois vai tu à sua conquista.

O que é o limite senão peça forjada para sua ambição adicionar às suas engrenagens, já ornadas de tantas delas. E teu choro é grito heroico, é água de banho, a corredeira que lava a poeira que cobre a prata reluzente que sua alma é – e lá no fim vai a desembocar no mar, aquele das finas gotas, dizer a ele “Cheguei; venci o caminho tortuoso” – e nele hei de me banhar.

Seja tu a palavra, mesmo que escrita torta, mas traga significado. Torto, aqui e ali, é também o carvalho que se torce rumo aos céus, mas que bem oferece sombra e abrigo; dá o fruto tantos outros, e néctar, e perfumes sem a nada pedir senão o toque de luz e água e maravilhosos outros elementos de vida, invisíveis, porque também é assim anunciada a beleza das coisas.

Sê bom professor, e aluno quando necessário, a falar ao mundo das coisas boas do ser, da riqueza embrenhada no coração. Tu serás parte importante de muito – não que a mim veja, ou aquele – mas o mundo o faz e esse transmitirá a nós teus atos, tão certo isso quanto à bem vinda do dia de amanhã.

É tu lírio do campo, fina manta que sustem o céu e tuas estrelas, e irradia teu brilho. Que sejam dignos teus desígnios em vida e que deles brotem outros mais, a semear boa fartura nos corações de gente: terreno fértil como os sonhos. Que dure em ti o inabalável, o inquebrantável, e devolvida ao esquecimento a dor – destino que não te endereça. 

Seja tua vida pleno amor, sendo ele importante, a completar frases que carecem de sentido, estórias de finais, felicidade de gozo.



Gabriel Costa
01/03/2013


Nota do autor:
Se este texto lhe trouxer algum sentimento bom, guarde-o com você. Imprima e cole na parede de seu quarto, no seu trabalho, dê a algum amigo, guarde na carteira, mas faça com que ele não deixe apagar sua vontade de ir em frente. Espero que ao lê-lo, hoje, ou amanhã, ele seja significado de felicidade e esperança.

Dedico a Rafaela Elias e Kamila Souza, que estiveram onde precisei, quando precisei.


            

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