Tuesday, January 10, 2017

Evolução

Às vezes não há como ir para frente nem para trás. Ficamos como presos pelos pés em uma piscina de cimento que pouco a pouco vai secando. O pior é saber que queremos ir além, mas é uma tarefa árdua. Sabemos que em algum momento não será mais possível dar um passo, e aí estaremos presos eternamente naquela imagem: nos mesmos defeitos, mesmas manias, mesmas palavras, mesma impotência sob os pesos aos nossos pés. Gastamos todas as forças, mas ainda não é o suficiente. Choramos desesperados, gritamos, olhamos para todos os lados como se fosse de alguma utilidade. Mas não; a cada minuto tudo se torna uma verdadeira batalha. Como se a cada centímetro que avançamos, o próximo é ainda mais difícil. Cada passo adiante é uma etapa de uma prova que, dela, tentamos sairmos vencedores - ou ao menos finaliza-lá com alguma decência: a vida.

A evolução é necessária, logo, a inércia é a inimiga número um. Não é de se espantar. Ora, o que é a energia senão o movimento das partículas. O calor, a eletricidade, a informação. Nada disso existe no estado inerte. Nada disse existe sem sair de um lugar e ir a outro. O mundo gira, as estrelas, o sol, todos os astros para que o universo esteja aí. Apenas consigo pensar em uma grande pedra de gelo quando penso na parada do movimento, do total estado de inércia: fria, sem cor, sem vida, sem uma verdadeira mensagem - aquele cimento sob nosso pés estará neste mesmo estado em breve, e nós, juntos. Mas não sejamos tão extremistas: necessitamos dessa parada em tempos e tempos. E há quem sobreviva até mesmos nessa piores situações adversas. Entretanto não é a extrema inércia, mas sim uma calma, uma paz, uma diminuição do ritmo.

Enfim, precisamos nos manter aquecidos sempre - a energia em movimento. Não há como escapar desse fato.  Tudo indica: em frente, sempre. Ir para trás é uma opção, sim. Mas regredir, não. São coisas diferentes. Não será apenas uma vez onde teremos que voltar alguns passos, mesmo muitos, para retomar algo que iniciamos de maneira errada ou para recuperar algo que esquecemos. Veja: para todas elas o que se ambiciona é novamente ir adiante. Regredir é perder tudo que se conquistou, é jogar lama nos olhos, apagar todas as letras de seu caderno. É encher ainda mais aquele poço de cimento de forma ativa. Regredir é ignorar todo o conhecimento, experiência adquirido até então. Entregar-se à raiva, estupidez, à sentimentos que deterioram nossa alma. É desejar construir um muro que nos fortifique e proteja, edificando-o tijolo por tijolo, sob o sol escaldante, contra o tempo, lutando para ganhar força a cada momento. Mas no final daquele dia, com uma única marretada, derrubá-lo, para começar novamente no dia seguinte. Evoluir é colocar peça por peça e esperar que a massa seque, e dê forma e segurança à nossa construção.

É necessário retirar o espinho quando a dor já não é mais suportável. Por mais que tenhamos a suportado - grande ou pequena, quem poderá dizer - por quanto tempo foi possível, chega uma hora que é necessário findá-la. Necessário cortas os laços com o sofrimento e a autopiedade. Abrir as janelas para que entre ao menos um pouco de luz que nos permitirá melhor discernimento para nossos passos. Temos que saber o momento de parar com as reclamações e ter coragem para enfrentar os problemas. Seja essa coragem sua fé em algo maior, fé em você mesmo, alguma crença que te faça soltar os grilhões daquilo que te segurou, impendido o avanço. E quem decide esse momento é você, unicamente. 

Evoluir não é apenas um processo biológico; é uma necessidade real. Do corpo, da alma. A largos passos a humanidade avança em tecnologia, em suas ciências sociais, na compreensão do universo e de seu papel nele. Apesar da nossa pequenez, estamos aqui com um propósito: não ser mais o que se foi ontem, e ser menos do que será amanhã. Esta é a lei, escrita das mais diferentes formas, em diferentes idiomas, dialetos, pensamentos, maneiras. Avançar para algo que almejamos, mesmo que não saibamos o que. Mas somente a boa sensação de que o amanhã pode ser melhor que hoje já nos dá a ideia de que é preciso mutar e reciclar nosso mundo pessoal. Reescrever quantas vezes forem necessárias nossas experiências e o modo como entendemos esta vida. Nada é imutável, nem mesmo o universo em sua grandiosidade. Nem mesmo a maior das angústias. Nem mesmo a morte. Quando nossa compreensão de todos esses fenômenos se estende além do que aparentam ser em suas formas, tudo se torna claro e consequentemente, evoluímos.

Aquele cimento sob os nossos pés não secou, mas está acontecendo. Não é necessário esperar que se torne pedra para ver o que acontece; nossa intuição já nos diz, dia a dia, segundo a segundo. Difícil, porém podemos dar passos largos em direção à saída, e nos lavar desse grude, dessa massa cinzenta, pesada, inútil. Valerá perder o fôlego, deixar alguns pedaços para trás, fazer com que o coração trabalhe em sua mais plena capacidade, abrir os pulmões para que um tornado entre e nos impulsione. Todo esforço será compensado, de uma maneira ou outra. E esse sentido de dever cumprido, essa compensação, o alívio, somente você poderá definir. Somente você saberá o valor de sua luta; o quanto retirar aquele pequeno espinho foi reconfortante. E depois disto tudo, poderá andar sob aquela piscina de cimento, endurecido, como marca de seu sucesso. Vai perceber que não era necessário tanto medo assim. Vai poder pisar naquilo que tanto lhe preocupou como se fosse nada, deixar para trás e seguir em frente. Aquele será o marco dizendo que quando decidiu ter ação, coragem, uma atitude perante os problemas da vida, a total inércia deixou de ser um incômodo e passou a ser apenas mais um obstáculo a transpôr em nosso caminho.


Gabriel Costa
10/01/2017

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