Inevitavelmente, existirão perdas. Assim como os ganhos. O que procuramos é enfim o equilíbrio entre estes dois pesos; não há vida sem renúncias, como não há vida sem vitórias. Nem todas elas estarão sobre o nosso controle. Seremos surpreendidos em momentos inesperados, ou quando menos é necessário, ou quando nossa intuição nos diz algo. Algumas perdas podem ser preenchidas por coisas boas; outras não. E das mais duras penas, uma mãe que perde seu filho é algo insubstituível.
Não se abale, apesar de parecer impossível, ou até mesmo que este meu apelo seja absurdo. Até aqui aprendi que não existem impossibilidades; toda matéria aqui presente é regida pela improbabilidade. Entretanto, chore. Não se perca na dor, mas chore o necessário. Deixe que as lágrimas caiam simbolizando o respeito, afeto e amor; não deixe que elas carreguem ao mundo, não deixe que elas reguem o solo com mágoas e desilusões. Nesse momento não existem gestos que podem alcança-lo, mas ele sentirá suas palavras e seus sentimentos, como se em teus braços repousasse tranquilamente.
E não pense que se acabou a vida. Ao contrário, desde sua concepção a vida já pulsava. E dentro de você, pulsavam duas. Todo o universo estava presente em cada célula, impregnado em todos os átomos; as estórias de toda a existência estava escrita ali - e continuará em você, em mim, em todos nós. A maravilhosa viagem entre várias vidas em você se encarnou, dando a possibilidade de abrigar uma outra. Você foi o porto seguro, o farol a um navio em meio a uma tormenta em alto mar, foi o caminho certo, foi você quem estendeu os braços a receber a vida sem medo. E com amor, sei, esperou por esse momento.
Mas de outros tempos, temos dívidas. Ninguém escapa a essa regra. Temos que cumprir nossas tarefas que deixamos pendentes. Entenda não como um castigo, mas a possibilidade de nos redimirmos com o mundo e com nós mesmos. Perceba que Deus não nos pune; se assim fosse, onde estaria sua eterna bondade e sabedoria? Não. Assim como você, Ele estende a nós seus braços e nos conforta. Ele entende que precisamos caminhar o quanto for necessário para podermos chegar ao Seu lado. Assim foi com seu amado, seu tão esperado. Não pense que teu ventre não foi o necessário, ou qualquer destas questões biológicas as quais somos tão bem estudados. Aqui reinou as leis divinas. Talvez ele esteja pagando por algum deslize. Quem não os comete?
Conforte-se conforme tua fé lhe permite. Saiba que quando aqui viemos, temos o privilégio de voltar ao redor de pessoas que amamos e nos foram queridas em épocas distantes. Desta maneira, ele já a amava, como amou há muito tempo. Tenha certeza de que agora, ao seu lado ele está, ou observando seus passos de perto, esperando o momento onde novamente poderão se olhar nos olhos e deixar que o amor faça seu trabalho. Com todo este desfecho, ele aprendeu muitas lições, assim como você. Assim como nós. E daí nada se perde: esperança, carinho, afeto, bondade. Assemelha-se mais com a semente que plantada no solo adequado nos provê seus frutos e flores. Essa semente - da mesma maneira que fomos nós - veio não em vão. Veja que mesmo tendo um tamanho diminuto, o quanto pôde mudar a vida de todos ao seu redor - chegou até a mim. Nada acontece por acaso. Coincidências não existem.
Uma lição de tudo se tira, e cada uma delas é uma pedaço de vida. É um pedaço de vigor, uma parte de uma engrenagem maior, é inevitavelmente, uma parte da colcha de retalhos que se faz nossa caminhada terrestre. Não se engane por barreiras que lhe fecham o caminho, ou precipícios que lhe impedem o passo; não há nada mais forte do que o amor. E do nosso aprendizado, sabemos que barreiras são feitas para serem quebradas e precipícios podem ser contornados. Furando os dedos é que se acabará de atar cada retalho para podermos finalmente nos aquecer.
Esteja certa que o reencontro é inevitável. Todos nós nos reencontraremos com o amor. Em verdade, o fazemos todos os dias, de maneiras diversas. Quando sua intuição lhe disser algo, saiba que ele está lhe guiando para o melhor caminho. Ele a protegerá, será seu companheiro em todos os segundos que transcorrem em seu viver. Enquanto isso, caminhemos. Caminhemos para que um dia possamos melhor entender nosso real propósito, desenvolvendo-nos cada vez mais, quantas vidas foram necessárias, até o dia em que juntos, ambos poderão ascender como clara luz.
Gabriel Costa
25/09/2013
Com meu sincero respeito, dedicado a Clara.
Na vida, tornamo-nos alunos e professores.
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