Monday, November 11, 2013

O peso

          Se você permitir, a culpa de seus erros vão consumi-lo. Seremos palha seca e ela brasa; basta pouco para que nos consuma em chamas e faça pó, nós, culpa, tudo. É uma peste que nos toma por completo, não deixando beira em branco. Todo o ser será preenchido pelo mínimo vestígio seu, sendo necessário apenas um pequeno rastro de suas causas para que se alastre como erva daninha. Dessa trama, quanto mais se tenta desfazer seus nós, mais entrelaçados ficamos. Não adianta cerrar os olhos; a luz de seu farol lhe cegará de qualquer maneira. Não adianta ignorar suas palavras, ou o modo como toca nosso coração, alma, sentimentos. Ela está presente - onipresente. O que você irá fazer?
          Inevitavelmente, em algum momento nos alvejará com força o peso de nossas ações. Essa é uma regra universal; acontecerá comigo, com você, com qualquer um, como tem acontecido sempre - mesmo tentando escapar de suas consequências. Não há fuga ou abrigo. Aquele que assume responsabilidades está fadado a responder por elas. É um dos vários atos de coragem de nossa existência - pois necessário ela é para suportamos as duras penas que são os resultados de nossas escolhas. Se é algo bom ou ruim, caberá a você julgar. Os aprendizados são individuais, e cada lição toca-nos de uma maneira singular.
          Deve haver erros. O mundo deve estar errado, as pessoas devem equivocar-se constantemente. Não que a partir dessa premissa as coisas devam se basear em erros, ou que esse seja o caminho a se seguir, mas que se torne um bloco de notas onde se anotará ações e reações.
          Como conhecer a verdade sem que se tome parte da mentira? Ou como saber o que é bom - conceito individual, a cada experiência - não conhecendo a parte ruim? O oposto é contrário a algo, de outra maneira, é inexistente. É como acharmos que Deus, ou a entidade - ou não - de sua crença resolverá tudo. Em minha concepção, é algo bem diferente disso.
          Estamos nessa vida para aprender - e não vem de mim essa verdade. É o fato como é; puro e simples. Não existe aprendizagem sem que uma falta seja cometida. Não existe a resposta correta de uma pergunta, sem que você responda incorretamente. Existem lá os casos de acerto na primeira tentativa; eu, você, ao menos cada um já experimentou a tal da "sorte de principiante". Entretanto, não existe sorte, ou acaso, ou qualquer coisa do gênero. Se assim foi, era porque assim deveria ser. E quem sabe em uma outra existência você já havia feito a tal pergunta, sem ter obtidos respostas por lá, e agora, obteve sem mais delongas.
          Algumas coisas podem ter suas respostas mais cedo do que se espera; outras, deveremos batalhar bastante até conseguirmos um vestígio de uma solução. O fato é que estamos postos à lição. Alguns pensarão que jogamos dados com o universo, mas todas nossas escolhas são conscientes. Desde nosso impulso, nossa propensão a uma escolha, temos plena consciência daquilo que fazemos. Mesmo se andarmos com os olhos fechados, sabemos que essa escolha foi própria.
          Na figura de aprendizes, temos que encarar nosso papel. Daremos marteladas nos dedos, tropeçaremos com o balde cheio, gastaremos mais do que o necessário, diremos mais do que devíamos, e muitas vezes, menos do que é preciso. Quantas oportunidades vão escapar ao nosso proveito por um descuido nosso de cada dia? Quais destinos teríamos se nossos passos nos tivessem guiado por aquele caminho, que não esse? Vê como de uma maneira ou outra algo de um pesar virá acompanhado da dúvida? É o peso de nossas responsabilidades.
          Se afogar nesta maré dependerá do nadador. Cada um sabe o quanto suporta - e o quanto pode ir além. Se você não é do tipo que gosta de aventuras tortuosas, arrisque-se o mínimo. Porém tenho que dizer que será pior a angústia de viver com a dúvida de seus questionamentos do que encarar os fatos crus que a vida nos dispõe, um após o outro. Durante nossa passagem, eles estarão enfileirados como dominó, bastando apenas o primeiro toque - o primeiro deslize - para que os demais também venham. O próprio fato de viver nos aproxima mais de nossa despedida. Não necessariamente reclamos disso - o que seria pior para muitos em vista dos fatos.
          Para mim, é uma alegria viver, mesmo sabendo qual é o fim, pois sei que lá chegando estarei melhor do que sou hoje. É o que espero. E de maneira alguma me desespero; terei outras mais se necessário. Quero fazer o que acho que devo fazer agora, deixar a minha obra pronta, responder as questões a mim impostas - pelo menos grande parte dela. Em verdade, não há fim. Somos eternos; alunos e mestres.
          Como um peso atado ao seu pescoço, sua culpa lhe ajudará queda abaixo, ou firmará seu corpo ao chão. Em uma das possibilidades, levará você a um breu eterno de onde será extremamente difícil sair, ou possibilitará que você continue em terra firme, são, lúcido do que lhe prende. Dessa maneira, você poderá - mesmo sendo uma tarefa árdua, e digo que em sua maioria será - ir atrás de sua libertação. O que quebrará essa corrente que pende suas culpas em sua consciência? Cada um deverá achar a ferramenta ideal para que ocorra essa separação.
          Mas não antes que você tenha conhecimento daquilo que foi resultado de suas ações. Conhecer os efeitos é tão importante quanto sua causa. Saber de onde veio o resultado é tão essencial quanto saber qual é a conta. Enfim: saiba qual foi seu erro, e jamais esqueça qual foi a culpa que teve que carregar. Essa é uma das mais preciosas lições que a vida nos dá; da maneira como deve ser, assim como tudo até aqui.
          E como o vento - que não podemos aprisionar em nossas mãos -, ela passará por nós, se assim permitirmos. Carregará do mesmo modo, o quão longe for necessário, de nossos dias já atribulados tantas aflições forem. Para alguns será como um devaneio, para outros, tempestade. Poderão se acumular conforme a ganância de quem as comete, ou fluirão como os rios para os navegadores corajosos. Desta maneira, mesmo sendo forte sua corredeira, violentas suas curvas, maiores e assustadoras suas quedas, ela chegará enfim ao mar. E fará parte da imensidão calma e azul; será no fim tranquila. Assim também é o fim dos que estiveram face a face de seus medos: plenos.
          Para que se alcançasse o equilíbrio foi necessário transpor barreiras, superar a si e as imposições mundanas, achar o sentido por onde se caminha e o objetivo ao qual pretendemos. Souberam que por mais tempestuosa foi a navegação, puderam chegar à margem firme. Que mesmo o barulho faz parte do silêncio, o escuro do brilho, a culpa da coragem. No final, tudo é apenas uma coisa só - tanto os rios e o mar, quanto o caos e a paz.

(talvez seja essa a resposta)


Gabriel Costa
11/11/2013

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