Faz um ano
que me afastei da beira de um precipício que cavei com as próprias mãos. Deixei
que aquela antiga vertigem fosse embora e firmei bem meus pés no chão. Levantei
os olhos para o céu e vi que a nada se assemelhava com aquele buraco negro onde
quase caí. Percebi o horizonte à minha frente e vi que ainda existia uma
esperança. Um passo apenas separava a vida da morte, a felicidade da angústia.
E dessa vez não foi um passo à frente que me levou adiante, mas sim um passo
atrás – afastando-me daquela vala, da eterna queda da solidão.
Faz um ano que deixei de correr com
os olhos fechados. Percebi nesse tempo que mais importante do que a velocidade,
é a direção. Passei um bom tempo percorrendo caminhos que nem sabia onde me
levariam. Fechava os olhos em uma atitude inconsequente, de medo, temor de
encarar os obstáculos à frente. Em quantas pedras tropecei, quantos espinhos me
cortaram, tantos buracos onde caí foram incontáveis. Mas de medo, não parava.
Era impulsionado por um instinto de sobrevivência apenas, algo que me dizia:
“Vá.” Entretanto, entendi aquela mensagem de uma maneira errada. Ela dizia para
ir atrás dos meus sonhos, dos meus objetivos, daquilo que realmente me traria a
paz. Antes de tudo, ordenava que fosse atrás de quem eu realmente era. Aquela
não era uma corrida, mas sim um busca. A procura da felicidade.
Faz um ano que ela se foi, levando
embora os olhos da minha alma. Na verdade fui tolo, abrindo a porta do meu
coração e a expulsando. Pouco a pouco consumi sua energia, quase drenando por
completo tudo que havia de bom naquela pequena. A quem o destino deveria levar
somente bons afetos e o melhor dos começos, meios e fins, o distorci e a ela
levei uma bagagem de pesares de uma vida não vivida, um livro com histórias de
terror. Na verdade ela não se foi; eu a deixei ir. Desejava que meu coração
fosse o melhor dos lares, pois a ela era merecido – e como era –, entretanto
esse lar estava com suas estruturas em ruína, mascarado por uma bela pintura.
Ela foi uma semente que plantei em meu jardim, mas ele estava seco que nada ali
cresceu. Porém, agora me vislumbro com uma enorme árvore e seus belos
frutos. Faz um ano que tento dizer que ainda a amo. Que o amor que cultivo
é natural, uma verdadeira flor que se espalhou por tudo o que sou. Colho até
hoje os bons frutos que deveria ter colhido antes. Talvez agora tenham uma
melhor serventia; de espalhar suas sementes por aí e ver crescer da mesma
maneira que em mim floresceu novos dias.
Faz um ano que meus sorrisos são mais alegres, que sou mais espontâneo, mais
sincero comigo mesmo. Posso rir daquilo que me deixa feliz sem medo das
aparências, posso falar o que aqui dentro existe sem pensar sobre o que vão
falar, consigo aceitar se em uma tarde chuvosa de segunda-feira me sinto
entediado, sem colocar culpa em algum passo mal dado do destino. Não, aprendi
que não existe culpa do destino, de Deus, da vida, do acaso. Todos eles
desenham perfeitamente as suas formas planejadas para nós e contam como ninguém
nossa estória ao universo. É somente uma questão de aceitação. Aprendi a
aceitar muitos fatos, apesar de meu coração ainda ser um bravo lutador.
Faz um ano que percebi a vida. Deixei que seus encantos tomassem conta de mim e
fui envolvido em um manto que aconchegou minha alma como um abraço de mãe.
Segurei em sua mão e deixei que ela me guiasse da melhor maneira possível.
Atei-me a ela dos pés até o pescoço e não pretendo deixá-la partir. Já estive
muito distante de suas maravilhas, agora jamais quero estar em outro lugar.
Faz um ano que descobri que não estive aqui somente uma vez, mas sim várias. E
se for preciso ainda estarei algumas outras, até completar meu ciclo e aprender
a ser um espírito melhor. Aprendi que estou pagando algumas dívidas que não
pude arcar no passado, e agora, tendo o conhecimento sobre meus deveres, tento
evoluir para uma pessoa melhor. Vou fazendo o melhor que posso; distribuo
quanto amor me é capaz, sou solidário até onde posso ser, mantenho minha fé com
os alicerces que me são disponíveis, vou cultivando minha esperança em um
canteiro vasto e fértil.
Não só hoje é meu dia, mas todos os outros também o são. Porém, faz um ano que
os aproveito de uma melhor maneira. Gastei outros vinte e três sentado embaixo
de uma chuva torrencial, impotente, praguejando ao céu uma culpa que a ele não
pertencia. Tanto tempo se passou sem que eu realmente o aproveitasse. Tanto
tempo se passou para que chegasse o momento. O meu momento. Faz um ano que
tenho a melhor vida que poderia ter escolhido; sou coragem, esperança, sou todo
sonho e metas, amor, amizade, paz e afeto. Faz um ano que meu mundo virou e de
cabeça para baixo entendi que o sentido depende apenas do observador.
Gabriel Costa
15/07/2013
Obrigado!!! estou seguindo o seu tambem!
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