Friday, September 11, 2015

Do reciclo da vida e minhas tentativas

Das habilidades que o mundo sabe, dar voltas ainda é a melhor. E não é necessário que ele acabe e renasça novamente para que novos começos aconteçam. Ele apenas gira, e pacientemente tudo entra em seu lugar. Nem muito rápido, nem muito devagar; ele anda como deve ser. Sua própria matéria não pode ser substituída. Tudo que nele está contido de maneira alguma é descartável. A energia contida em seus elementos nunca se perde, sempre se transforma. A mesma partícula que fez parte do início dos tempos faz parte de nós, agora. A vida é eterna e jamais será uma mera embalagem atirada ao lixo.

Há algum tempo ganhei uma mochila de meu irmão. Muito bonita, espaçosa, que supria todas as minhas necessidades. Como sempre está em constante uso, logo começou a rasgar em algumas partes. Aquilo me incomodou. Pensei por várias vezes em comprar outra, novinha, e resolveria aquilo facilmente. Entretanto, pensei: “Ela me serve tão bem.” E além do mais tinha certo carinho por ela, não pelo valor material, mas pela ajuda que me ofereceu mesmo sendo um objeto inanimado.

Eram apenas alguns rasgos, nada demais. Peguei agulha e linha e os remendei. Gastei um bom tempo, alguma paciência e dedos furados, mas dei conta do trabalho. Ficou como nova. Foi uma tarefa relativamente fácil, porém me trouxe muito alívio e satisfação.

Qual seria o desafio presente em comprar uma nova mochila? Descartaria aquela que atendia minhas necessidades por causa de pequenos defeitos? Detalhes que poderiam ser corrigidos. Percebi que minha satisfação era essa: corrigir o que estava errado e não apenas substituir e ignorar a lição. Um dia a outra mochila rasgaria igualmente. Esse ciclo se repetiria – e repetirá – eternamente.

O que faço com meus sentimentos é bem semelhante. É certo que vão se desgastando com o tempo, mas minha vida não é uma lata de lixo aonde vou descartando o que sinto. Até mesmo os ruins acabam por se transformar. Quando percebo que minhas engrenagens estão enferrujando, coloco um pouco mais de óleo, e a vida continua em frente. Não descarto minhas lições de maneira alguma. Se algo está errado, é necessário consertar. Qual o problema com isso? O aprendizado se constrói dessa maneira. Vou cometer vários erros durante minha caminhada com muitas pessoas. O mínimo que farei será dar um jeito nisso.

A maneira como nossa sociedade encara a vida hoje em dia – a sociedade do consumo – preconiza a substituição. Estão estendendo isso às suas relações, pessoais e interpessoais. Cada vez mais o perdão é esquecido, a compreensão é ignorada, destinos maravilhosos que poderiam ter se cumprido são trocados por um incerto. Todos querem recomeçar, mas como, senão não dão a chance a si e ao próximo? É triste ver como é banalizado nossos sentimentos, fonte de tudo que somos.

As relações amorosas servem apenas para cada parte se ancorar na outra, pois nunca a sociedade esteve tão fraca de si mesma. Estão tão carentes que procuram os motivos certos nas fontes erradas. Vão pulando de galho em galho, esperando encontrar um que não quebre. Mas todos são feitos de madeira e possuem o mesmo risco de se partir. É possível saber por onde iniciar a reforma dos parâmetros que vivemos. Está bem claro, entretanto, quem está pronto?

De todas as minhas tentativas, o fracasso esteve presente, assim como o sucesso. Algumas delas nem foram sinceras, na verdade. Essas eram produto de alguma vaidade minha, ou uma maneira de provar algo a alguém que não era eu. Já estavam fadadas à falha. Porém aquelas onde empreguei minha total dedicação foi uma escada por onde ascendi e me permitiu desenvolver como ser humano. E esse estado não diz respeito somente ao sucesso. Aprender engloba tanto as falhas, quanto os acertos. O que importa são as portas que eles abrem e se você passará ou não.

Tentei, e até que tentei demais. Venho tentado sempre: ser um melhor amigo, um melhor amante, um melhor filho, profissional, devoto. Quantas palavras rabisco até que apareça a certa? Acertar na primeira ou na última tanto faz; isso não é uma corrida. Ser um humano em pleno contato contigo não é jogar na loteria. Passei por cima de meus medos, meu orgulho, soltei o freio de mão para que rompesse minhas próprias barreiras e dizer: “Vamos tentar novamente?” E seja para meus amigos, minhas antigas namoradas, para aquela equação na prova final, não me arrependi de tê-la dito nenhuma vez. Uma única frase expressou anos de luta, desempenho e crença. Muita crença que com minha sinceridade alcançaria os resultados. 

Sendo a vida eterna, não poderá ser excluída de sua lista. Repinte as partes desbotadas, retire a poeira que está lá no fundo, recicle as lembranças. Costure aquele rasgo em sua alma e sinta como tudo se renova. Se não for nessa vida, será em outra. Vivemos em etapas, degrau por degrau, e cada passo à frente é uma tentativa. Em cada tentativa pode haver um novo começo. Ou o reciclo de uma anterior. Uma certa tranquilidade me invade, pois sei que realmente me esforcei. Tenho sido honesto nas questões que constroem o meu caráter. Tenho me dedicado quando digo “Vou tentar”. O maior ganho com meus esforços é sempre acreditar e nunca desistir de mim mesmo.

Gabriel Costa
01/05/2013 
(repostando, porque afinal, ontem está cheio de lições para hoje) 

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