Thursday, October 15, 2015

O desaparecido eu

Por onde anda você? Ainda me lembro da última vez que lhe vi. Como esquecer tais cores, tal brilho, tanta vida emanando da própria vida? O som do teu sorriso ainda ecoa por esses salões, em festa, esperando o retorno teu. Mas não demore. Não deixe que as paredes desta morada percam as cores, que as teias multipliquem-se, que a poeira torne aqui um lugar apenas de lembranças, um lugar que um dia foi. Não faça daqui sertão. Todos o aguardam ansiosos, impassíveis, querendo notícias dessa viagem repentina, que de surpresa nos pegou.

Foi muito longe? Qual é a distância que tu percorres? É distância a andar ou distância da memória? Delas se faz o mesmo distante? Não, talvez não. São ambas coisas distintas para tu, não é mesmo? Do caminhar que se foi, fica muito o que ainda pensar. Do que se passou o corpo, a mente ainda trabalha resoluções. Não há como encurtar o caminho? Sentimos falta tua. Porém conheço essa determinação; essa que vi tanta, de que se assossega apenas quando findada a questão. Se ela que te move, nesse pedaço de terra onde se aventura, seguro está. Mas não demore. 

O que foi? São os amores antigos, ainda em brasas em teu coração? Esses assuntos conheço que são bem amigos teus, não? Foi lá resolver? Entendo, e aceito sem dizer um nada a mais. Apenas daqui rogo para que se finda logo, tão custosos assuntos a ti. Desse teu coração, queremos apenas as alegrias. Queremos da mesma maneira o fogo de uma nova paixão queimando teu peito, jorrando em nós também seu calor. Tu procuras? Foi isso em atrás, foi? Foi procurar amor? Deixe disso; ele te acha.

Ou da tua sina foi tomar posse? Tens andado por coisa que não se pega, nem se prende, homem? Teu destino está rabiscando por aí, é isso então? O que foi? Foi traçar caminho nesse mundo, abrindo estrada em rocha, clareira em mata serrada, trilha em montanha, coisa que vi fazer em muito? Se for da maneira essa, concordo com a mão no fogo. Não espera não. Não espera que não é assim que chega. Vai-te mesmo, que a gente não sabe onde que a gente vai se encontrar. Mas dê notícia, uma carta que for, ao menos para ter certeza de que está indo bem. Se isso for, querer boa tua busca queremos sempre.

É medo? Coragem tu criou com afinco, que mesmo eu vi. Duras penas, tantos dias. Mas é que ainda resta na gente um pouco de qualquer coisa de temor, não é? Às vezes a gente descobre, lá pro final, que era mesmo nada, insegurança boba, que os outros plantam na gente; tem outras que é só produto de querer demais: querer bem, querer certo, querer agora, ontem. Donde que nasce isso tudo, diz-me se aí encontrar resposta. Mas talvez é só isso que tu carrega mais como peso: insegurança. Deixa de bobiça que tu é feito pelo Deus que fez a felicidade também. Vê aí tua parte, que é tempo. 

Está para esconder alguma coisa? Coisa assim que teve que puxar viagem longa, distante. Volte logo, e rápido se o caso for. Tens aqui gente que de agrado ajuda oferece. Além mais do que pensa. Aqui têm braços, apertos, carinhos, beijos, atenções que não se joga fora. Do jeito que já vi em olhos teus, sei que busca da ajuda própria de tempos em tempos. Faz bem, conversar contigo mesmo. Quem é que lá vai saber como se desarranjou tudo aí dentro? Aqui, tu sabes, queremos-lhe bem pra lá de sempre. Arrume o lugar que as coisas devem ter, tome seu tempo, tome seu tempo. Todos o seu têm, não? Mas volte sem nada menos que a verdade clara a olhos vistos. Não tens que deixar que nada passe entre amigos.

Se perdido está, espero que em breve se encontre. Não perca tu as palavras que a nós diz, porque são boas. Perca por aí somente essa coisa que lhe tira sono da noite. Se está pesado o fardo para a volta, não faz mal em deixar para trás uma tralha dele. Larga. Vê se tudo isso é preciso mesmo, para a vida, para o sorrir, para o amar. Toca daí pra cá só o que cabe no coração, moço. O resto a gente arruma de novo. O resto é besteira pouca. Volta, trás o ânimo que animava nós mesmos de dia, de tarde e de noite. Vem procurar quem precisa de tu, que é bom o gesto. Revigora a energia. Perde a vontade não, se nisso tudo posso pedir uma pequena coisa. Perde a vontade não.

Te encontre aí, mas não demore não.



tentando me encontrar
22/01/2014
(repostando a busca de ontem e hoje)

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