Thursday, October 29, 2015

[Como] Ir em frente

Quando a saudade bater, será com força. Te pegará desprevenido em um anoitecer de uma quarta-feira nublada. Depois de uma reunião exaustiva, que você lembra das contas a pagar, daquela viagem que adiou anos, das noites que prometeu dormir mais cedo, da visita aos amigos que nunca fez. Ela chegará e te lembrará de todos seus defeitos, como se fosse um espelho. Irá escancarar seus olhos cansados, o corpo dolorido, as marcas dos tempo, a roupa amarrotada. Os passos ficarão um pouco mais pesados, o vento mais gelado. As lembranças virão à tona com todos seus detalhes, trazendo também aquele aperto na garganta, no peito, lágrimas aos olhos. Não existirá lugar para esconder, ou quem lhe tire essa dor. Ela exigirá que você a encare, fria e nua.

Escolha aquela melhor música e coloque no último volume. Deixe que as vibrações ocupem tudo. Preste atenção na melodia, no que as palavras te dizem. Deixe que a boa sensação ali gerada lhe guie, corpo e alma. Expulse os fantasmas e faça com que se torne um campo de força contra as mazelas. Permita que a harmonia musical permute com a harmonia de sua vida. Eleve-se a esse estado de euforia, alegria, tranquilidade. Acalme-se, canalize toda energia ruim que corre por dentro e por fora e a expulse para longe. Esqueça-se; vibre, faça cada parte de seu corpo dançar, que cada célula tome consciência de tudo. São mensagens diferentes, mundos diferentes, perspectivas a se analisar, ideias a questionar, informação a processar, enfim, é maior do que qualquer coisa.

Deite com os olhos fechados. Acenda uma vela, um incenso. Lembranças são engraçadas: sempre nos recordamos do que apenas queremos, ou modificamos todo o verdadeiro valor daquele momento. Desligue-se de tudo isso, e daí? Relaxe seu corpo de toda tensão acumulada, pelo menos nessa noite. Dê um descanso às angústias. Corriqueiramente nos ligamos a elas; temos que aprender a entrar em sintonia com o que verdadeiramente nos move. Durma com as preocupações do lado de fora de casa e deixe no coração uma semente que poderá germinar no dia seguinte em bons frutos.

Lembre de todo seu caminho até aqui. Jamais se esqueça das dificuldades que passou. Relembre de que essa não é a primeira vez e como todas as outras, conseguiu superar. Veja quantas conquistas, apesar das adversidades. E quantas de suas dores foram responsáveis por tanto crescimento? Quase todas! Todos os bons sentimentos servem para a construção das sólidas bases as quais nos constitui, mas muitos tijolos que vamos colocando ali vêm do que recolhemos de nossas desventuras. Quanto mais tombos tomamos no percurso, mais atentos ficamos. Passamos a reconhecer padrões e assim nos preparamos melhor.

Saiba que tudo que passamos nessa vida é maior que nós mesmos. Não adianta pular tais partes. A não ser que você queira viver uma vida inteira sem nada aprender. Besteira; terá que voltar em uma nova para aprender as lições, talvez de uma forma mais dura. Independente de sua crença, saiba que aquilo que está ao nosso redor é o que merecemos, o que atraímos e o que temos que lidar, de uma forma ou outra. A velha história de que ganhamos o cobertor de acordo com o frio. Talvez quanto mais maduros estamos, maiores são os problemas para que possamos dar passos mais largos em direção à progressão como seres humanos. Tome consciência e assuma isso. Talvez tudo fique mais leve.

Encare de frente. A saudade, aquele projeto inacabado, a dívida, quem você ofendeu, o texto a ser terminado. Não deixe dúvidas: o melhor é se esclarecer sobre o problema para saná-lo. Vá até a raiz; não se engane e não seja covarde. Se necessário for, veja nas fotos que você não foi o escolhido, ou que estava errado quanto aquela decisão, ou que não deveria ter insistido. Assuma que você também faz parte da culpa, parte do que se sente. E se conseguir, não aponte dedos ou deixe que um único alguém seja o bandido nessa história. Estamos todos entrelaçados na mesma rede. Temos participação nas decisões coletivas, mesmo que inconsciente ou indiretamente. Assuma suas fraquezas.

Apesar de tudo, a vida ainda faz sentido. Cada dia mais que o outro. Mesmo o mundo parecendo um constante caos, cada coisa está em no lugar ao qual você destinou. Perceba como você tem o controle sobre sua vida: seu emprego, suas contas, suas roupas, seus relacionamentos, seus amigos, a marca de seu perfume, a cor de sua escova de dentes. Nos dias aos quais quase se beira o desespero, pense nisso. Podemos não ter controle sobre a totalidade dos fatos, mas podemos os contornar. Leva-se tempo, o importante é aprender. Essa estrada, o aprendizado, é a mais fascinante que podemos tomar na vida.

Aceite as decisões das outras pessoas. Aceite que, por mais que você queria, ela não voltará. A distância existe, é real. Lute pelo que você quer, porém quando perceber que a batalha terminou, largue as armas. Não queira que suas decisões sejam as mesmas de todos, não queria que o seu jeito seja o único, sua verdade, seus modos. Tenha sua individualidade, seja original. Provavelmente a maioria daqueles ao seu redor irão criticá-lo. Deixe. Entretanto, seja você. Seja sincero. Acredite profundamente nas suas capacidades, tente não ter medo de tudo, arrisque. Não perca seu tempo sendo algo que não quer, fazendo o que lhe deixa triste. Aceite, sobretudo.

E de repente se esquece. Passa. Aquele calor no peito já é devido a outras preocupações. Aquela saudade é lembrada com um sorriso no rosto. Passa a ser apenas mais uma lembrança; tudo que a envolve passa a ser crônicas de seus dias. Aquele incômodo desaparece por completo, dando lugar a outros novos - certamente existirão. Desapegamos-nos. Tomamos consciência e percebemos que temos muito o que viver. Temos que nos apaixonar novamente, ir atrás de novas aventuras, conhecer novos amigos, jogar fora o que não precisamos, renovar, move on. Deixa a resistência para trás. Colecione novos momentos. Faça valer as semanas, dias, minutos que sobrevivemos a nós mesmos.

Gabriel Costa
30/10/2015






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