Sunday, April 8, 2018

Satisfeito 2.0

Ando bem feliz. Não digo isso para causar algum sentimento de inveja, ou qualquer desagrado em quem ouça. A bem da verdade, nem mesmo digo que sou feliz - ou melhor, estou feliz. Para mim sempre existiu tal diferença: o ser e estar. Não sei, acho que o estado de ser alguma coisa pode não existir, já que de tempos em tempos nossas crenças mudam. Você pode até estar pensando que não, ou algum sentimento de resistência acabou de ser acionado em seu interior, dizendo nem tudo muda deste modo. Mas - eu ou você pode estar enganado -, muda sim. Para mim isso é tão nítido hoje que não pode sequer pensar em negar. As coisas mudam; já não podem mais ser, e sim estar.

Estou feliz há um bom tempo. Um profundo sentimento de gratidão, satisfação. Em alguns dias, antes de dormir, quando desligo as luzes e deito, sinto um enorme sentimento de alívio. Como se minha própria existência pudesse acabar naquele momento, e ainda assim saberia que fiz tudo o que podia ter feito. Claro que ficaram uma dezena de outros planos, mas e daí, a vida é isso. O que conta é o fizemos; conta-se também nossa intenção, que se refletiria em atos futuros, mas ainda assim não são ações findadas nem concretas. Então nos resta o aqui, o presente, o agora. Quando fecho os olhos em cada final de dia estou orgulhoso dos meus esforços, da minha dedicação, dos meus sonhos, de como continuo indo para frente e agora com mais afinco. Não é um sentimento de urgência - será? -, mas sim um querer de realização. Fazer o que quero, o penso ser melhor para mim, o que vai adicionar.

Talvez esse meu estado alegre esteja sendo alimentado por isso. Tenho tentando deixar em minha vida apenas aquilo que adiciona. Não fujo de problemas, ou de desafios, ou qualquer coisa do tipo. Não. Fazer com que as coisas apenas lhe traga bons frutos nunca foi e nunca será não ter problemas. É justamente o caminho oposto: é resolvê-los. Pode parecer trivial, mas resolver algo não é tão fácil assim. Se livrar de um relacionamento abusivo, ou uma amizade que não lhe trás coisas úteis, ou até mesmo aqueles papéis de anos dentro da sua gaveta podem ser situações difíceis de se dar cabo. De uma certa maneira acabamos nos apegando àquilo que não nos faz bem. Acabamos nos acostumando com coisas ruins. E isso hoje em dia é tão comum de se observar: como as pessoas consomem notícias falsas e as espalham; como as redes sociais se tornaram uma lixeira virtual; como os relacionamentos se tornaram fúteis. Eu decidi filtrar quais problema seriam realmente relevantes para o meu crescimento e amadurecimento. Decidi que uma foto, ou um comentário feito por alguém a quilômetros de distância não mais fossem uma pedra de tropeço.

Meu trabalho continua sendo um problema, meus relacionamentos mais íntimos, o trânsito do qual não consigo escapar, eu próprio sou um problemão. Desses não consigo fugir, fazem parte do meu dia-a-dia. Esses eu preciso liquidar. Brigas de grupos extremistas não. Intrigas dentro de um escritório também. A insatisfação humana muito menos. Quando percebi que eu precisava lidar somente os meus problemas tudo ficou mais colorido. As coisas fizeram mais sentido, com mais gosto, propósito. Como as pessoas me enxergam, como elas me ouvem, ou me entendem, pode parecer um problema meu, mas não, não é. Toda informação pode ser entendida de diversas vezes; pode ser processada por inúmeros filtros. Tenho responsabilidade somente pelo que emito e sinto. Como o mundo absorve isso é problema dele, entenda isso. 

Hoje persigo meus objetivos com unhas e dentes, pois somente eu posso o fazer. Não deposito minha felicidade, ou minhas esperanças em terceiros. Pode soar solitário, mas não é. Acho que mais triste pensar que nosso propósito precisa de uma metade para se completar. Somos inteiros por natureza. Claro, as pessoas, as coisas que adquirimos, a sociedade a qual nos inserimos faz parte da nossa caminhada. Mas é isso: faz parte, não traduz. Estamos trilhando um caminho onde quem dá passo a passo somos nós, e tudo que faz parte dela apenas nos rodeia, podendo facilitar ou dificultar essa caminhada. A dependência que algumas pessoas criam em relação a outras e a coisas acho um limitador, um buraco cada vez mais fundo para quem quer estar feliz. Quando decidi não mais depender, a não ser de mim, fui feliz.

Quando amigos me perguntam, eu respondo que sim, sou feliz. Quando questionam como ou por quê, apenas digo que sou assim porque estou constantemente satisfeito. Satisfeito com minhas decisões, o modo como estou guiando minha vida, com minha conquistas, como me vejo no mundo e como contorno meus problemas. As coisas estão perfeitas? Claro que não! Mas estou tranquilo com isso. Quase nada me assusta mais. Decidi tomar um rumo e é isso. É ótimo. Não ter dúvidas profundas sobre quem sou ou o que quero. Ter controle sobre aquilo que posso ter. Acho que é isso, o resumo deste estado: ter o controle, assumir as rédeas da vida - daquilo que se pode assumir, claro. É assim: se posso dizer sim, digo; se devo dizer não, nego. Não problematizar demais as coisas. Viver simplesmente.

Gabriel Costa
08/04/2018

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