Monday, December 30, 2013

Não um novo ano; um novo eu

          Há pouco menos de dois anos me dispus a uma prova. Descobri logo que seria um marco entre o que era minha estória e o que passaria a ser. Acho engraçado pensar sobre isso, pois é como aqueles casos que sempre via em filmes, lia em livros, que acontecem na vida de desconhecidos e pensamos que nunca acontecerá conosco. Na verdade acontece, somente não percebemos ou não damos a importância devida. E devíamos dar uma enorme atenção a isso. É o momento onde se deixa grande parte do que acreditávamos ser a verdade singular, para moldar novas crenças e hábitos.
        Não foi algo aleatório, espontâneo, ou um golpe do destino. Nem acredito mais nisso, no destino que as coisas devem tomar. Não encare como uma colocação negativa; ao contrário, essa certeza deu um fôlego que nunca tive em minha vida. Do que seria feito nosso livre-arbítrio se tudo já estivesse escrito? Qual seria a sabedoria e bondade de Deus se já houvesse deixado nossa história toda pronta, sem possibilidades de mudança, sem que pudéssemos ir atrás daquilo que queremos? Qual seria o valor de sonhar? Não sei quem criou esse conto de fadas e colocou o nome de "destino", mas hoje essa lenda não faz mais parte de minhas crenças. Em minhas vitórias não está embutida o golpe do acaso, ou em minhas derrotas a fala do destino; tudo que faço possui unicamente eu. Essa é a história que Ele reservou a mim, e mais ninguém.
          Essa foi minha prova: confrontar-me.
        Passei a aceitar quem sou. Dei ouvidos a minha essência e parei de fingir gestos que não vinham de mim. Parei de fugir dos outros. Finalmente, dei um fim a fuga que fazia do mundo há vinte e três anos. E quando olhei para trás, percebi que fugia de mim mesmo. O mundo não estava me perseguindo, muito menos as pessoas; elas tinham a própria vida para resolver. O aperto no peito era apenas a vida querendo fluir, explodir do sufoco do peito e conhecer o que havia de melhor por aí. Todas as coisas boas me aguardavam desde sempre. Aguardam todos. No momento onde decidi que era hora de sentar e ter uma boa conversa na frente do espelho, enxerguei um mundo novo. Não aquele lá fora, mas este aqui dentro. Vi as olheiras, o rosto cansado, a barba por fazer, o corpo largado e percebi  o quanto deixei de cuidar de meu próprio jardim.
         Não vou me demorar nisso. Quero falar de momentos especiais.
         Atirei-me em projetos fantásticos. Conheci várias pessoas que despertaram o melhor de mim. Conheci outras que me motivaram como nunca havia feito comigo mesmo. Todas me ajudaram a consolidar meus sonhos e fazerem com que tomassem forma. Muitos ainda estão a caminho, mas sei que sem o auxílio desses bons amigos talvez não conseguiria chegar onde fui até então.
          Estive em diversos lugares com minha banda e em todos eles senti uma profunda felicidade. É sem dúvida o projeto mais promissor que estive musicalmente. Além disso, sei que estou em meio a amigos que posso contar. Ganho sempre experiência em todos os aspectos a cada encontro nosso, e todos os momentos onde estou representando meu papel fico enormemente grato por poder levar alegria para quem está no escutando. É onde posso me libertar das energias ruins, esquecer um pouco os problemas e focar apenas em coisas boas. Ainda temos muito o que percorrer. Esse ano foi um ano de vitórias para nós: tocamos em vários lugares da cidade, recebemos vários convites, conhecemos e nos conheceram, tocamos na televisão, tivemos a oportunidade de concorrer a uma vaga para tocar com minha banda favorita, pude comprar uma nova guitarra e novos equipamentos. Só não vê quem não quer: temos um grande futuro.
          Fiz grandes apresentações com outros projetos: com o Terenzi, onde era baterista e dei o melhor de mim a cada show e alegremente recebi elogios excelentes em todos. Toquei com nossa promissora banda cover de The Killers, onde me diverti mesmo tocando em horários e dias que desafiavam minha graduação. Ainda temos muitos shows pela frente. Vários projetos estão chegando no ano que vai se iniciar e com eles, novas experiências e bons momentos fazendo o que amo e tenho prazer. Não posso pedir mais que isso.
         Na literatura, deixei que meu dom finalmente se libertasse. Sempre tive medo de falar: "Bom, sou um escritor". Abri as portas para esse eu, e me surpreendi com os resultados. Apenas basta deixar que você seja o que é; não resistir contra sua natureza. Nunca escrevi tanto. Mudei totalmente o foco, e hoje somente desejo escrever coisas boas. Quero fazer algo, ajudar na mudança. Pensei em mudar o mundo, mas o mundo é assim por um motivo. Não quero mais mudá-lo, mas sim ajudar quem procura a mudança. Quando não escrevo, sinto-me angustiado e dessa maneira sei que nasci para isso. É assim que devo viver, é essa minha missão. Hoje, sou mais escritor do que músico, ou biomédico.
          Esse ano acabei de escrever meu primeiro livro. E não seria assim se não tivesse ajuda da Kamila Souza, que teve toda paciência e carinho para me ajudar no processo. Sou enormemente grato por sua ajuda, pela amizade, e todos os momentos que passamos juntos. Tenho uma dívida enorme com você, e espero um dia que esteja ao meu lado em minhas vitórias. Eu sei que estará lá quando acontecer. Recebi minha primeira proposta de edição de meu livro, uma alegria que não posso descrever. Posso dizer que quando terminei de ler aquele e-mail, estava com os olhos em lágrimas. Tenho recebido elogios pelos textos que escrevo, e sei que já ajudei várias pessoas e tenho orgulho disso. Minhas energias e vontade de seguir com tudo isso se renovam quando posso ajudar. Continuarei assim, mesmo que anonimamente. Quero salvar vidas, como pude salvar a minha.
          Estou terminando minha graduação finalmente. Esse foi meu último ano e aprendi muito. Sinto que estou preparado para ir lá fora e fazer meu melhor. Espero poder também ajudar desta maneira. Atingir pessoas, gerar resultados, não deixar que todo o meu esforço seja em vão. Quero fazer valer a fé que meus pais investiram em mim, quero fazer valer os sacrifícios que meu pai fez para que eu conseguisse aquele diploma. E vou, podem apostar. Não fui o melhor em minha turma, não sei absolutamente tudo, não obtive notas máximas, mas minha vontade, minha fé, meu desejo de fazer com que o ruim se torne bom me faz um profissional duas vezes mais qualificado do que um pedaço de papel pode afirmar.
          Meu futuro profissional segue com minha graduação. Consegui estar onde sempre quis. Devo isso a ajuda de uma amiga que pela ordem das coisas, acabei por me afastar. Mas se pudesse dizer isso todos os dias, diria que sou profundamente grato. Mantive-me com certa dificuldade por um bom tempo, e hoje tenho a confiança de minha orientadora. Não digo "chefe", ou qualquer outra coisa do gênero, pois não me sinto assim. É mais uma amiga, professora, do que qualquer coisa. Fui acolhido por uma pessoa excepcional, a qual tenho orgulho e prazer de trabalhar. Conheci tantas outras que me ajudam a construir bons caminhos em um ambiente competitivo. Sei que continuarei lá por um tempo, porém vai chegar a hora onde irei me despedir e seguirei um outro rumo. Enquanto isso, estou feliz por ter um emprego onde estou satisfeito e não preciso reclamar de nada. Tenho sorte, se esse é o nome.
          Depois de anos, encontrei Deus e não uma coisa vaga que tentava engolir. O mais curioso é que O encontrei onde jamais imaginei, onde tive medo, ideias erradas e onde uma pessoa especial já havia me falado. Descobri o Espiritismo e finalmente venho entendendo tudo. Coloquei mais uma peça no quebra-cabeça da existência. Venho estudando cada vez mais sua doutrina, e me sinto feliz. Encontrei-me. Faço dali também uma nova fonte de inspiração para que possa me ajudar, e ajudar as pessoas. Estou motivado a ser melhor - não que seja fácil ou imediato - e hoje uma consciência nova toma lugar. Por isso digo não existir destino - algo que aprendi dos Espíritos -; existe nossa vontade, nosso carma, nossas ações e o espaço e tempo que Deus nos dispões para por um fim em nossas angústias e fazermos unicamente o bem. Vou tentando aos poucos.
          Venho me exercitando, tenho lido vários livros e expandido meus horizontes e conhecimento. Vou abrindo minha mente e minha alma de uma maneira incrível. Aos poucos acabo com minhas limitações, mudo meus conceitos e tento ser coerente com as leis naturais que regem o universo. Estou descobrindo o que é a vida.
          Há pouco menos de dois anos aconteceu, mas ainda me lembro do rompimento que fez tudo mudar. O espelho a qual tive que me sentar defronte. Ainda me sento diante dele, por um tempo é difícil encarar-me e os fatos que ele me mostra, mas sempre me levanto com uma coisa boa. Vou lá e ponho isso no papel, em um blog, em uma música, ou em um gesto. Se eu pudesse trocar a despedida de uma pessoa que se ama por todo ensinamento que obtive? Nossa, é uma pergunta que não vou conseguir resposta. Às vezes é melhor viver não sabendo, do que obter as respostas erradas (Richard Feynman). Aprendi muito; sozinho e com tantas outras. Se você fez parte, agradeço.
       Foi um bom ano, um bom tempo. A caminhada até aqui tem me levado ao lugar onde desejo estar, mas ainda existe um longo trecho. Passei por vários desafios, ainda terei muitas provas, e a cada dia tenho um leão para vencer. A luta não acaba. Nos espaços de tantos momentos especiais, existiram outros também importantes. Poderia escrever páginas e páginas sobre isso, mas em partes o gosto do mágico é guardar os seus segredos. Compartilho aquilo que pode ajudar os demais e fico com o que é particular. Cada um também deve procurar seus motivos de felicidade.
          No final deste ano não vou me vestir de branco, amarelo, verde, ou pular uma onda, enterrar uma moeda. Não vou a clubes caros com música alta, pessoas embriagadas, pessoas ostentando, pessoas preocupadas com imagem. Não vou fazer promessas; farei planos executáveis. Não vou me jogar nas mãos da sorte. Passou a ser algo clichê, mas é uma das daquelas premissas batidas, porém verdadeiras: não é o ano que deve mudar, mas você mesmo. É a velha história sobre os limões que a vida nos dá: resolvi fazer uma limonada. Agora estou colocando bastante açúcar, pois nunca gostei do sabor amargo que às vezes as coisas têm.


Gabriel Costa
30/12/2013
         

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