Sunday, March 30, 2014

Enquanto ainda me lembro

          Algumas coisas simplesmente demoram a passar. E hoje sei que esse tempo é relativo a cada um; a como seu coração bate, o quanto ele ainda quer, a como as lembranças lhe envolvem nas noites frias de chuva, durante as tarde das segundas-feiras, aos pensamentos que lhe surgem na ida para casa, em plena reunião de negócios, naquela aula tão importante ou naquele cinema solitário de domingo. 
         Demoram a passar porque ainda guardamos fotos em lugares secretos. Guardamo-nas como se guardássemos um grande segredo de estado, o qual é proibido mesmo tocar no assunto. E quando ousamos revê-las, parece que estamos profanando algo divino. Como se ali repousasse um poder acima de qualquer coisa. E mesmo que não tivéssemos esse pequeno acervo, ainda surgiriam incontáveis imagens aos fechar os olhos. 
          Demoram porque somos teimosos e não queremos esquecer. Ou não conseguimos porque vamos alimentando uma esperança, mesmo sem saber por qual motivo. Mesmo sabendo que não há espaços para ela. Mas somos humanos; precisamos de esperança sempre. Vamos contando que ela nos leve a algum lugar, independente de onde; aonde se deseja chegar, ou em um lugar parecido. Não importa, se no final ainda houver algum sentimento.
          Não passam porque diariamente algumas coisas estão sob nossos olhos; vão, voltam, somem e aparecem novamente. Por mais que tentamos ser alheios àquilo, é impossível. Impossível porque queremos tanto que tais coisas não vão embora, que realmente ficam. Mas ao mesmo tempo que estão perto, um abismo invisível e cruel nos separa. Coloca-nos em prova de resistência, perseverança e paciência. Um grande teste para algo que certamente só saberemos o que é daqui há muito tempo.
          Algumas coisas demoram a passar porque existem propósitos maiores para tudo. O que nós saberemos sobre isso? O que saberemos sobre propósitos maiores se nem ao menos conseguimos explicar nossa própria ignorância? Se nos falta palavras para argumentar sobre nossas faltas, nossas falhas, nossa incapacidade para sermos melhores? O que diremos sobre planos, futuro, certezas?
          Demoram a passar, e algumas vezes nos sobra apenas lágrimas. O olho pesado, querendo desabar; mas já se passou tanto tempo que aprendemos a ser fortes. Ignoramos alguma situação desconfortável pela necessidade de ir em frente. Sentamos em qualquer lugar depois, mais tarde, quando der, e pensamos apenas. E assim o tempo vai. O tempo vai e o que se faz de nós? Tentamos ser.  Vamos tentando arrancar explicações das circunstâncias, dos motivos, dos desvios que os caminhos fazem, das portas que abrimos, das palavras que não dissemos. A vida vai passando, mas algumas coisas simplesmente demoram a passar.


Gabriel Costa
31/03/2014

2 comments:

  1. Estou aqui para divulgar o meu Blog.
    Siga queeu sigo de volta.
    http://lopesadriana.blogspot.com.br

    ReplyDelete