Monday, April 21, 2014

Uma noite, uma tarde qualquer dura toda uma vida

          E todas as vezes que sofremos em silêncio? Para onde vão as dores após preencherem nossas lágrimas e dar-lhes o peso? Serão elas pesadas assim para forçar sua saída de nosso corpo, secar nossa alma do sofrer? São elas as gotas que irrigam o solo pronto para dar vida a algo novo? Há algo dentro de nós, uma muralha, que vai sendo levantada pouco a pouco, forçando aquilo que é fraco, que está solto, bambo, vacilante ir embora. Quanto mais alta vai ficando, mais segura fica a terra firme, sólida e fértil, enquanto os males são expulsos e afastados de onde somente pode haver vida. Trabalhamos nessa construção em silêncio, o mundo lá fora totalmente alheio, por vezes vendo apenas nossos olhos molhados. Mas mal sabe ele que o que daqui sai é fraqueza, logo nos transformando em titãs.
            E todas as vezes que nos alegramos sem alguém escutar nosso sorriso? É um desperdício de felicidade? A água para quem tem sede que se derrama no caminho? Seria ele mais um momento de um esforço ignorado, de uma luta ganha sem platéia, um sucesso na escuridão? Nos alegramos em silêncio e o Universo nos vê, e dela se compartilha tudo; início, meio e fim. Essa alegria somente é real quando compartilhada, e Deus jamais deixaria que fosse em vão, solitária. O sorriso que não pode ser escutado é sentido pelos olhos, pelo tato, pelas palavras, gestos, mesmo pelo andar. Um sorriso jamais é abandonado; está como nós antes de tudo. E como o som, ele é espalhado pelo mundo através de vibrações que inevitavelmente chegam ao coração de muitos.
          As decisões que tomamos pensando que são boas, mas acabam tendo um final inesperado, são, afinal, boas ou ruins? Como podemos definir o "bom" e o "ruim" se cada ser, cada vida, é um próprio emaranhado de sentimentos, crenças e ideias? Quando nos decepcionamos, ou o fazemos a alguém, onde está o errado e certo? Não seria todo o processo, cada uma de suas etapas, conjuntos de boas e más decisões? Pois se quando temos uma resolução existe uma cadeia de acontecimentos, por que apenas julgar o final? Quando se compartimenta esse processo - a totalidade da ação - vemos que na verdade não existe bom ou ruim, pois todas as polaridades, todas as qualidades de nossas ações se anulam, e desta maneira vai se mantendo o equilíbrio da vida.
          É verdade que enquanto não tomamos uma decisão tudo permanece possível. Podemos estar diante de uma infinidade de possíveis respostas, situações, encontros e desencontros. Podemos passar a vida inteira prorrogando esta decisão. É fantástico quando a criança se vê o astronauta, quando o jovem como escritor, a moça como noiva, o adulto como um sucesso e o velho como um significado. Entretanto, a possibilidade não se concretiza enquanto permanecemos de braços cruzados teimando em não torná-la real. E quando decidimos tornar algo real, esse momento onde se palpita o coração, os pêlos se arrepiam, a certeza se abala, dura menos que o bater de asas de um pássaro, mostrando não somente a importância da tomada de decisão, mas também suas consequências. O que mantém o pássaro no ar é o ato de bater suas asas e as forças dela resultante. O que mantém nossa vida é a decisão que tomamos e suas consequências. Não há como viver pelas metades. Não há como viver arrependido de tudo.
          Todos os momentos se esvaem tão rapidamente perante o tempo do universo, o alcance do infinito, e ainda assim têm a mágica de durar séculos, milênios, uma eternidade contida no brilho dos olhos, no som dos sorrisos, no ritmo do coração, no calor de um abraço. Um toque, um beijo, uma declaração pode ser esquecida com o nascer do sol, mas nunca apagada das linhas da alma. A vida é muito curta para ser pequena.

Gabriel Costa
21/04/2014

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