Sunday, June 15, 2014

Desvios

          De repente as coisas acontecem. Assim, sem pedir permissão, ou dar avisos. A verdade é que nos distraímos tanto que nem vemos nossa sorte mudar. Porque a cada dia muda, pouco a pouco, resultado daquilo que transmite nosso coração. Moldamos o mundo, nosso destino, pelas ações refletidas por nossos sentimentos, nossas aspirações, influências, como vemos e pensamos a vida. Então, quando perdemos o sono em uma noite qualquer, entendemos que algo está diferente. Que hoje não é mais ontem, e que amanhã não será hoje.
          Bastava apenas desviar a atenção da fumaça para ver onde se iniciava o fogo, ou parar de prestar atenção no barulho para saber de onde ele vinha, é o que depois concluímos. Fatos óbvios e tão simples, mas ainda assim nos deixamos enganar pelas preocupações cotidianas. Sempre as preocupações tolas e insignificantes diante da nossa verdadeira busca. É necessário manter o foco. Distrações existirão sempre. Às vezes me distraio com palavras e perco a objetividade. Para alcançamos nossos fins, temos que manter o foco.
          Sem mais, mudou. Tudo. Mesmo as cores sendo as mesmas, o gosto sendo igual, as pessoas agindo como pessoas. Mudei eu. Mudou o que pensava sobre como as coisas seriam nos próximos anos, décadas. E aqui estou, numa noite qualquer, sem sono. Algo está diferente; não lá fora, mas aqui dentro. Depois de um longo período lutando em uma tempestade em alto mar, avisto um porto. Mas antes de me aliviar com essa segurança, deveria ter me aliviado com o simples fato de ao menos estar em um barco que me protegia da água fria, das profundezas, do vento furioso. Esse é um dos nossos maiores problemas: não dar o valor ao que temos.
          Agora - como sempre, provavelmente - tenho o que preciso, na hora certa, no momento em que Deus permitiu que elas viessem. Ou que eu as percebesse de uma melhor maneira. Tenho o futuro que me reserva espaço e tempo para concretizar meus planos; tenho o coração preenchido com amor por uma mulher que assim, de repente, chegou e arquivou os filmes de meu passado; tenho os amigos por onde vou, que não são apenas corpos, mais sorrisos encarnados, felicidades ambulantes; tenho uma casa, com uma família, e assuntos para pensar; tenho roupa, sapato, comida, dinheiro, discernimento, inteligência, oportunidades, calor, vontade, esperança, fé, tenho muito.
          Quantas vezes a vida dará uma guinada em seu curso? Ninguém realmente saberá. O certo é que irá acontecer, assim como temos a certeza de que a chuva voltará após uma longa temporada de estiagem, ou que as folhas cobrirão novamente as árvores após o outono. Para todos parece haver um ciclo particular de ganhos e perdas, conquistas e derrotas, lições e provas. Acertos e erros. Tudo converge para as lições dos acertos e erros, das coisas que fazemos de bem, e aquelas que saem mal. Nesse ciclo, por tempos a curva é acentuada demais para os erros, até que pegamos a subida, lenta e difícil, dos acertos. Nesse momento, estou no topo, bem no topo.


Gabriel Costa
16/06/2014
          

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